domingo, 18 de setembro de 2011

A Governanta (Mais um conto alienado)

                              



            Ela estava cansada. Dedicava-se àquela casa como se fosse dela própria. Muitas vezes isto fazia parte dos seus devaneios, mas ela sofria. Sofria porque a casa não era sua, mas de uma mulher, quase uma menina, que nem mesmo sabia conduzir as coisas dentro do lar. Tudo era função da governanta, cujo cargo ela ocupava.
          Seu patrão era um médico cardiologista respeitado. Já tinha uma certa idade, mas se aventurou em um casamento com uma moça jovem, alegre e cheia de vida. Ele não era bonito, mas tinha seus encantos. Era doce e divertido. Talvez, por isto, sua esposa tenha se apaixonado por ele.
Ela, a governanta, nutria um sentimento apaixonado por seu patrão, mas fugia de suas investidas. Pois, apesar de não ser tão jovem e tão bem tratada, era muito bonita e ele não lhe era indiferente.
 Mas ela sabia que não poderia alimentar aquele sentimento, não era correto trair e viver sob o mesmo teto que sua empregadora, sobretudo agora que esta estava grávida de seu primeiro filho.
            Ela invejava sua patroa, não pelo fato de estar grávida, mas o fato de sempe atrair a atenção de seu esposo sempre que o queria por perto. Sabia que apesar de nova era manipuladora e, se ela percebesse qualquer tipo de envolvimento entre os dois, seu emprego não existiria mais e ficaria longe do amor de sua vida para sempre. Decidiu, então, não dar crédito às investidas de seu patrão e seguir adiante. Decidiu evitá-lo sempre que possível.
            Por ocasião de uma das muitas viagens do médico, já no final da gravidez de sua esposa, ele recomendou à governanta que qualquer emergência ligasse para o médico de Paloma, sua esposa, e em seguida ligasse para seu telefone. Ela assim o fez . Paloma começou a sentir as dores do parto e, imediatamente, a governanta ligou para seu médico e depois para seu marido.
Tudo correu perfeitamente bem. Paloma teve sua filha e seu marido estava numa alegria só. Afinal, tornara-se pai! Então,ele chegou em casa com um buquê de rosas vermelhas. Entregou-o à governanta e esta disse-lhe: " As flores vão murchar, pois dona Paloma só chegará amanhã."
Ele respondeu: " As flores não são para ela. São para você." E seus olhos brilharam tentando perceber emoções que a governanta pudesse deixar fluir.
Ela pegou as flores, subiu rapidamente as escadas, mas ele a deteve ainda alguns minutos, segurando-lhe o braço como se quisesse brincar de gato e rato: " É uma forma de agradecer o que você fez."
Ela respondeu com voz entrecortada: " Não fiz mais que minha obrigação. Obrigada."
Ele retrucou: " Você aprende rápido, hein?"
Ele riu e desceu as escadas, enquanto ela se virava e permitia que lágrimas lhe molhassem a face.

2 comentários:

Jorge disse...

Virando escritora, né?......Tens facilidade para tanto.....além de poetiza, é claro.
Parabéns!!!

Um beijo!

Estrela disse...

Quem dera!...
Ideias até me surgem, mas nem sempre é fácil colocá-las em palavras. Ainda assim, obrigada!
Boa semana, beijos!